Será...?

Emma acorda assustada, pois tivera um sonho aterrador. A testa suada, escorria gotas frias de suor; as mãos encontravam-se trémulas. Respirou fundo, pois sabia que Leon estava ao seu lado, e bastava que um terno abraço para acorrentar-lhe os seus fantasmas. Estendeu o braço para o lado. A sua mão não encontrara nada do lado direito da sua cama, apenas um grande vazio existente ali e o lençol completamente gelado. Continuou a apalpar, desta vez, freneticamente. Uma lágrima caiu. Limpou-a e resolveu olhar. Acontecera o que ela mais temia, ele não encontrava-se ali. «Mas porquê?», perguntava-se Emma. Deu um salto da cama e procurou desesperadamente por algum bilhete ou algum indício que justificasse a ausência dele. Não encontrou nada. Cansada, triste e furiosa atirou os perfumes que encontravam-se na cómoda, ao ar; pegou no candeeiro e atirou contra a parede; o chinelo, foi atirado contra o relógio. Desejava loucamente que o tempo tivesse parado. Exausta, deitou-se novamente, mas desta vez, no lado direito da cama que pertencia a Leon. O perfume dele trazia-lhe memórias da conversa que ambos tiveram tido na noite anterior:

- Leon, prometes-me uma coisa? - Perguntou Emma, esperançosa.

- Se eu puder cumprir meu amor, tudo. - Respondeu Leon, com um pequeno sorriso no canto da boca.

- Prometes que ficas comigo aqui para sempre? - Disse Emma, olhando-o nos olhos.

- Isso está mais do que garantido meu amor, apenas a morte nos separará. - Dito isto, passou os dedos entre os cabelos dela e beijou-lhe os lábios ao de leve.

Bastou um sorriso da parte de Emma para que ele entendesse que agora sim ela estava feliz e completa.

Após recordar isto, o choro foi ainda mais compulsivo. Deu uma volta na almofada e ouviu um pequeno barulho de quando amarrotamos papel. Assustou-se. Atirou a almofada ao ar e encontrou um bilhete. Com o coração na mão, as mãos trémulas, lá conseguiu lê-lo.

Querida Emma,

Sabes que és tudo para mim e que és muito além da razão do meu viver. Mas, tenho vindo a pensar de à uns tempos para cá que não sou a pessoa certa para ti. Envolvi-me em outro caso, para além de ti. E engravidei-a e agora sinto-me na obrigação de casar com ela. Desculpa-me pelo sofrimento que estou a fazer-te passar, mas, não havia maneira de despedir-me. Podes chamar-me de cretino, vigarista... Os nomes todos que quiseres. Sinto muito, mas, o meu coração foi e continuará a ser sempre teu e, acredita, que nesse aspecto, nunca te menti.                                                                                                        

                                                                                                         Perdão,

                                                                                                                    Leon.

Emma amarrotou o papel. «Como fui capaz de amar aquele cretino?», pensou. A sua vida estava perdida, o seu coração havia sido partido ao meio e ela só questionava-se se valeria de facto, continuar a viver. Deitou-se de costas, olhava o tecto e pensava naquele cretino. Continuava a amá-lo.

De repente a porta do quarto desarrumado abre-se e alguém corta o escuro com pequenos passos. Ele ajoelha-se perante a cama e dá um suave e leve beijo na testa de Emma. Aproxima-se do ouvido dela e sussura-lhe:

- Feliz dia das mentiras. - Declarou ele.

Os olhos dela abrem-se bruscamente e ela responde:

- Não acredito! Eu aqui a desesperada e tu... Não perdou-te.

- Tu é que sabes, tinha trazido uma bela bandeja com o pequeno almoço mais completo do mundo. Mas como não queres, fica para mim... - Desafiou ele, com um sorriso escarninho.

- Tu não vales nada... - Disse Emma. - Dá-me, eu quero sim.

- Sim eu dou-te mas quero algo em troca. Tipo... Um beijo bem quente e doce.

E lá acabou por ceder. Fora o pior momento da sua vida, mas, modesta a parte, sentia-se aliviada pois o pesadelo havia acabado.

37ª edição Cartas

Eu percebo bem se algumas pessoas acharem a história um pouco sem sal. Mas resolvi fugir um pouco do que é comum. Espero que gostem :)