domingo, 7 de agosto de 2011

No céu estrelado eu me perco com os pés na terra ♪ Mensagem de Amor - Os Paralamas do Sucesso)


Passei dois dias presa no quarto com a luz apagada; o estore completamente fechado, não deixava o mais ínfimo raio de luz penetrar o escuro; o silêncio era ensurdecedor; as lágrimas banhavam a minha alma e encharcavam a minha almofada; os lençóis sobre mim aconchegavam-me com um calor reconfortante. Foram dois dias mal passados e mal dormidos. Ainda conseguia sentir o ardente e doce perfume dele que abraçava o meu olfacto, tal e qual como quando ele abraçava-me de noite e a sua pele macia e quente fazia-me adormecer. Memórias lindas que eu tentava preservar, agora, a todo custo, passavam de rompante na minha mente.

Ainda mal consigo acreditar no que aconteceu. Belisquei-me vezes sem conta até o meu braço esquerdo encontrar-se absolutamente vermelho, inchado e dormente; para ter a certeza de que aquilo passara-se mesmo.

Ele partiu. Deixou-me uma profunda amargura na alma, que não será brevemente preenchida. A falta que ele me faz é avassaladora. O seu aroma doce e ardente que fazia com que eu entrasse em êxtase; o toque suave e protector que acomodava-me todos os dias antes de adormecer; os ínfimos «Eu amo-te!», quanto eram inesperados, a que eu nunca dei demasiada importância…

Levantei-me da cama. Com o corpo fraco e vulnerável ainda consegui tactear até chegar ao botão para acender o candeeiro. A luz cortou o negro que cobria aquele abismo, o meu quarto. Ainda meio trémula, retirei os lençóis que cobriam o meu corpo e sentei-me na cama. Procurei freneticamente o telemóvel por debaixo da minha almofada e quando finalmente o encontrei, resolvi ligá-lo. Tinha trinta chamadas de pessoas que queriam saber como eu estava, mensagens de consolo e mensagens no voice-mail. Gastei as poucas energias que ainda me restavam e atirei o pequeno aparelho contra a parede. Queria gritar «Deixem-me em paz! Nada o trará de volta, por isso deixem-me sentir e lamentar o suficiente pela sua eterna ausência!», o grito morreu-me na garganta, não tinha mais forças. Caí na cama, novamente com o rosto banhado em lágrimas.

Limpei o rosto e bebi um gole da água que se encontrava no copo na minha mesa-de-cabeceira. Desta vez resolvi deixar aquele abismo, levantei-me e caminhei em direcção à porta do quarto. Abri-a e continuei o meu trajecto até à casa de banho. O silêncio era ensurdecedor, a casa parecia assombrada, sem vida, sem cor e sem qualquer resto de motivação para se manter ainda, de pé.

O choque foi descomunal assim que acendi a luz e deparei-me com a minha figura no espelho. Covas fundas e negras marcavam sombriamente os meus olhos; as minhas maçãs não tinham outra cor senão o branco absolutamente pálido; o meu olhar não tinha vitalidade alguma; os meus lábios tremiam de tal maneira que o tilintar dos meus dentes, formavam um frenético som que cortava o silêncio daquele espaço e o meu corpo simplesmente estava cadavérico, bastava observar as minhas mãos para ver que os meus ossos estavam cobertos por pele, sem qualquer resto ou indício de carne.

Virei-me de costas e libertei-me das roupas de costas para o espelho, não queria ver novamente a minha figura desastrosa. Entrei na banheira e pus a água a correr. O calor era óptimo embora não fosse o milagre que eu precisava. Esfreguei tanto a pele porque sentia-me suja, que grandes feridas abriram-se e o sangue jorrava manchando toda a água. Depressa me desfiz daquele cenário e abandonei aquele local. Caminhei até à cozinha, onde finalmente alimentei-me apesar de me ter sabido a tão pouco. Estava tudo tão silencioso que conseguia ouvir e acompanhar o trajecto do ar, que encaminhava para os meus pulmões e era expulso pelas vias nasais. Deparei-me com velho caderno em cima da mesa, ao seu lado encontrava-se uma caneta. Ambas solitárias, após a partida do dono. Quando dei por mim estava a escrever, tudo o que achava, incomodava-me e sentia. Era uma carta sem dúvida completa. Tive uma ideia. Levantei-me novamente e fui vestir-me, peguei na carta, nas chaves do carro e saí.

No caminho passei por um super mercado, parei e comprei um balão. Continuei até chegar ao lugar preferido do Damon. Estacionei, saí e fui sentar no nosso banco de sempre. «No céu estrelado eu me perco com os pés na terra», era a frase com que eu mais me identificava na nossa música favorita, que tinha acabado de ouvir.

O céu estava coberto com um manto negro e enfeitado com estrelas eternamente brilhantes. Deixei-me sucumbir, derramei uma lágrima de desespero. Não conseguia falar, isto estava a ser demasiado para mim. Resolvi entregar a minha carta. Amarrei-a ao balão, beijei e afaguei-a ternamente. Com mais uma lágrima soltei e os meus olhos acompanhavam o leve esvoaçar do balão.


Querido Damon,

Ficou muito por dizer e, acredito que isto não seja um adeus, mas um breve, embora longo «Até já!». Queria poder voltar atrás para impedir-te de teres tido o acidente, de ter-me poupado a mim e à tua família todo o sofrimento, desejava loucamente que nada tivesse acontecido. Porque será que eu sinto que todas as vezes que eu disse que te amava agora parecem poucas? Ainda havia muito para fazermos, por dizer, concluir, planear, construir… A tua falta será para sempre um vazio impreenchível na minha alma. O meu amor se manterá, para sempre intacto e genuíno. Só queria acordar e saber que estás novamente ao meu lado… Estejas onde estiveres descansa em paz, que eu continuarei a lutar por ti na mesma paz que me proporcionaste enquanto existias.

                                          Um eterno e verdadeiro: «Eu amo-te».
                            Isto não é um adeus, porque tenho fé que nos vamos reaver.

                                                                                                                Para sempre tua.
                                                                                                                                            Lucy


80º Edição Musical
*Projecto Bloinquês

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